Quem não fuma, não bebe, faz exercícios físicos, controla a pressão e faz exames regulares de colesterol está livre de problemas com o coração, certo? Infelizmente está errado. Cerca de 40% dos enfartados não apresentam fatores de risco e têm colesterol normal. Para as profissões mais estressantes, como jornalistas, médicos e executivos, este é um fator a mais de preocupação.
Não é para deixar ninguém com taquicardia, mas pesquisas recentes revelam que controlar a pressão arterial, não fumar, não beber abusivamente, praticar exercícios com regularidade, fazer os exames usuais de colesterol, enfim, seguir à risca as recomendações dadas pelos médicos - não é garantia de um coração batendo no compasso por mais tempo.
Perto de 40% dos infartados são pessoas com o colesterol normal e que, eventualmente, também não apresentavam outros fatores de risco cardíaco por ocasião do ataque. Todos diziam que procuravam manter o peso, faziam exames periódicos e exercícios regulares. Por que isso foi acontecer? Porque existe algo que não aparece nas pesquisas, o que pode ser chamado de colesterol oculto. Exato, não existem apenas os clássicos colesterol bom (HDL) e o ruim (LDL). Há outras duas categorias de colesterol, cuja avaliação e controle, segundo um grupo pequeno de especialistas, ajudariam a prevenir ataques cardíacos nesses 40% de insuspeitos.
QUEM SÃO, AFINAL, ESSES INIMIGOS OCULTOS?
Hoje boa parte dos médicos desconhece esses novos inimigos - ou não se preocupam com eles. Mas os médicos do Lawrence Bekerley National Laboratories, ligado à Universidade da Califórnia, não cansam de alertar sobre eles.
O médico americano Robert Superko, afirma que o teste de colesterol total é grosseiro, na medida em que está longe de identificar as pessoas que realmente estão destinadas a ter um ataque cardíaco. Mesmo as frações clássicas, LDL e HDL, deixaram de ser expressivas, mas é claro que uma pessoa com taxa de colesterol total acima de 240, sobretudo se tiver história de infartados precoces na família, tem um sinal de alerta pregado no peito.
Por outro lado, ter uma taxa abaixo de 200 não é vacina contra as doenças cardiovasculares. Aí é que entrariam as subfrações de colesterol e outros marcadores de risco.
Um desses riscos é o LDL pequeno e denso - uma forma de colesterol pior do que o colesterol ruim. Sua presença em alto índice aumentaria em até três vezes o risco de um ataque do coração.
Outro novo fator de risco para o coração é a chamada Lipoproteína a, ou Lp(a). Essa substância faz o trabalho sujo, impedindo a dissolução dos coágulos sanguíneos. O terceiro inimigo oculto é a presença de homocisteína no sangue, que pode ser o cano fumegante do processo de aterosclerose coronariana.
MELHOR FORMA DE PREVENIR É EVITAR EXCESSOS.
De acordo com o médico Enio Buffolo, ouvido pela reportagem da revista Exame, investigar essas sutilezas do sangue dos pacientes é supérfluo em determinadas situações.
"Quando uma pessoa que não tem herança genética de doença cardiovascular mantém o LDL, o HDL e a pressão arterial sob controle, não fuma, faz exercícios regulares e sai inteiro de um teste ergométrico de carga máxima, a gente pára por aí", afirma.
Ou seja, para a maior parte das pessoas, a receita para um coração saudável é aquela mesma conhecida. Controlando-se os fatores de riscos clássicos, a possibilidade de infarto cai na faixa do imponderável.
Sérgio Almeida de Oliveira, diretor do Incor, também ouvido pela Exame concorda. "Essas filigranas bioquímicas interessam mais aos especialistas. Para o público em geral o que interessa é estar dentro da faixa de normalidade do colesterol que já se conhece e controlar os outros fatores de risco conhecidos", afirma.
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Ano XXIV - n° 182 - Julho/2001 |