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Estão no céu as
circunstâncias
Transitam
pelos céus muitos
sinais
à espera da nossa percepção.
E
remetem tanto ao
doce
encontrar dos caminhos
d’alma,
como podem refletir
preocupações
com o
que,
por vir do alto, tem o poder
de
modificar a terrena vida.
No
primeiro caso como é
bom,
em tardes ou manhãs
de
enormes tufos de nuvens
brancas,
vê-los a se mover
contra
o azul; abertura de rotas
para
apascentar as também
alvas
ovelhas que balem
dentro
de nós. Ah, sim, ainda
no
viés das doçuras, agora
noturnas,
as estrelas. Aqui na
cidade
menos, ofuscadas pelas
luzes
das lâmpadas das
ruas
e das casas; mas, nos lugares
ermos,
sempre estão a
piscar
para quem sabe apreciá-
las.
Quando me ponho a
isso
fazer, ficam os olhos
atentos
para alguma cadente,
a
quem lanço o apelo para
realizar
desejos. No meu
último
pedido exalei a esperança
de
que possa rever certa
amiga
que sumiu dos
meus
olhos faz anos. Até agora,
porém,
nada...
Neste
tempo de precipitações
mínimas,
toda manhã
abro
a janela deste franciscano
tugúrio
onde me abrigo
na
Chácara da Barra para,
com
olhares quase súplices,
vasculhar
o alto em busca de
nuvens
de chuvas. Madrugada
dessas
acordei com a paradoxal
alegria
do espocar de
raios
e trovões. Encolhido no
catre
meio bíblico que concede
repouso
aos meus cansaços,
ajeitei-me
para ouvir o
barulho
da torrente a despencar
sobre
as telhas e a escorrer
dos
beirais; música que
acalentou
meu sonhar com
as
águas fartas dos rios da
Amazônia,
onde nasci. Pela
manhã,
à primeira claridade
que
vem dos lados do Jardim
das
Paineiras, provavelmente
da
casa da luminosa pintora
Anna
Maria Badaró, saio para
o
jardim molhado. Busco
no
céu sinais de mais água, e
os
encontro nas nuvens negras
que
chegam do mar para
o
nosso consolo. Pintaram
depois
notícias de que o nível
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do
Atibaia teria melhorado.
Festa
para todo mundo,
mas,
especialmente, para
meu
amigo Edney de Moraes
Bueno,
que vive num lindo
solar
às margens do curso
d’água.
Espero que já tenha
voltado
a pescar os dourados
e
pacus que, na verdade, fisga
no
Mercadão. Para elaborar
os
almoços que costuma
oferecer
a reis e rainhas.
Porém,
das circunstâncias
celestes
chegam também,
nestes
dias, as maritacas. E o
que
as atrai para o jardim
que
ladeia a garagem do tugúrio,
são
duas viçosas goiabeiras,
plantadas
por ninguém,
que
cresceram lado a
lado.
E agora, amigos, nem a
seca
dos últimos tempos impediu
que
vicejassem nos galhos
os
sumarentos frutos
amarelos
que atraem as verdes
aves
de vivacidade incomum.
Se
me detectam, fogem;
por
isso vou com cuidado
para
poder apreciá-las.
Abro
apenas fresta na porta
da
área que dá para a garagem
e
fico o tempo que for
necessário
a apreciar o apetite
com
que se alimentam. E
grasnam,
e pulam de um galho
para
outro. Quando, afinal,
saciadas,
vão embora,
não
há maior alegria do que
catar
no chão as frutinhas
parcialmente
comidas que
deixam
cair.
Neste
dia em que escrevo
faz
céu de nuvens fartas, daquelas
brancas
que balançam
os
aviões, mas não trazem
chuvas.
Todavia, cedo,
na
hora em que fui buscar o
pão
nosso de cada dia, fiquei
sabendo
que outro morador
do
bairro marcou presença.
É
um formidável pica-pau,
talvez
bisneto ou trineto do
primeiro
que por aqui voou.
Seu
cuidador oficial é o quase
ornitólogo
João Leopoldino
Rodrigues;
diariamente,
antes
de sair para seu atarefado
trabalho
como diretor administrativo
e
financeiro da
Cohab-Campinas,
deixa sobre
o
muro um recipiente
com
grãos para dar mais força
às
necessidades diárias do
querido
pica-pau.
| Por
fim registre-se também
que,
para alegria dos
nossos
olhos, as viçosas florinhas
dos
guarujás tomam
conta
das frestas das vias públicas
e
dos pequenos espaços
abertos
aos pés das sibipirunas.
De
vez em quando os
limpadores
da Prefeitura aparecem
para
arrancar os capins
e
levam, junto, as pétalas
tão
lindas. De um bege
suave,
bem no centro apresentam
traços
de amarelo
mesclado
a marrom profundo.
Que
bom, amigos, se as
Maravilhosas
guarujás fossem
poupadas.
Será que nunca
passou
pela cabeça das autoridades
contratar
um paisagista
urbano
para melhor
aproveitar
as flores que nascem
ao
léu e enfeitam de graça
inúmeras
calçadas? Afinal,
neste
conspurcado mundo
em
que vivemos, há muito
mais
coisas a serem extirpadas,
como
petrolões e ladrões.
Razão
a mais para que os
homens
da limpeza pública
deixem as flores em paz...
** Antonio Contente é jornalista, escritor e colunista do
Correio Popular
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