O Dia do Advogado é celebrado em 11 de agosto em homenagem a criação dos dois primeiros cursos de Direito no Brasil, em 1827.A Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo; e a Faculdade de Direito de Olinda, em Pernambuco, foram criadas por D. Pedro I.
Até bem pouco tempo, em comemoração ao Dia do Advogado, os estudantes de direito festejavam o chamado “Dia da Pendura”, quando saiam pelos restaurantes próximos da universidade, consumiam e não pagavam, pois a conta ficava “pendurada” por conta do dono do restaurante. Atualmente este costume está praticamente extinto.
Em algumas regiões do país, os profissionais também comemoram o dia
19 de maio, Dia de São Ivo, padroeiro dos advogados.
Profissão no Brasil – Desafios e Dificuldades
Segundo o Advogado e Coordenador Administrativo Jurídico da COHAB/CAMPINAS – José de Freitas - atualmente a maior dificuldade da profissão está na manutenção da qualidade dos serviços prestados pelo profissional Advogado. Ele ainda conta que, em um artigo do ano de 2014 o então presidente do conselho federal da OAB lembrava que o Brasil sozinho tinha mais faculdades de direito do que o resto do mundo todo, eram 1.240 no Brasil contra 1.100 no resto do mundo inteiro, e o problema é que ainda segundo o texto, daquelas mais de 1.200 faculdades de direito no máximo 400 daquelas instituições de ensino eram de boa qualidade, e essa deficiência acaba afetando negativamente a qualidade do profissional advogado que vai ser formado e colocado no mercado de trabalho. E como essa situação tem se agravado, hoje o maior desafio é oferecer para a sociedade profissionais que prestam um serviço de qualidade. Afinal a constituição federal diz que o advogado é indispensável para a administração da justiça, mas para atingir esse objetivo o advogado deve prestar um serviço de qualidade, assim como deve ocorrer em qualquer outra profissão. Porem somente a graduação não é o suficiente pois somente é possível tornar-se advogado após aprovação no exame da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB,pois para ser advogado o profissional deve ter registro no órgão de classe , no caso a OAB.
A advogada da COHAB/CAMPINAS – Karina Cren – entende que, como em todas as profissões, há sempre obstáculos a serem superados, nem tudo é como aprendemos na teoria, e a prática, o dia a dia, nos mostra algumas realidades as vezes difíceis, porém a persistência e o amor a profissão pode superar as dificuldades. Apesar de o Direito ter um campo bastante vasto de atuação, seja na iniciativa pública ou privada, há muitos profissionais da área no mercado, fator esse que poderia ser pensado como uma dificuldade de se inserir profissionalmente, porém numa visão positiva nos faz querer estudar e se atualizar cada vez mais.
ercado de trabalho
Direito tornou-se a profissão mais desejada dos brasileiros. As salas de aula deste curso comportam, atualmente, mais de 800 mil estudantes espalhados por todo o território nacional, de acordo com o último Censo do ensino superior. As oportunidades de trabalho para quem opta por esta graduação cresceram rapidamente nos últimos anos, aumentando a procura pelo curso nos vestibulares e processos seletivos que usam a nota do Enem, como Sistema de Seleção Unificada(Sisu) e Programa Universidade para Todos (ProUni). No mesmo passo, aumentou também o número de profissionais na ativa – tornando a concorrência por uma vaga de emprego ainda mais acirrada.
O mercado de trabalho já foi melhor. Atualmente, está ficando muito saturado, com muita oferta de profissionais e, consequentemente, redução de ganhos. Mas ainda assim, quando o profissional é dedicado, eficiente, bom no que faz, é um mercado de trabalho muito bom, que pode ser muito rentável, diz Dr. Freitas.
Já Dra. Karina Cren, diz que sem dúvidas o mercado está bastante inflado, e muitas vezes o profissional tem dificuldades de se inserir no mercado, e quando consegue a concorrência pode gerar distorções salariais. De qualquer forma, se for muito bom naquilo que você faz esses desafios poderão ser superados, pois o melhor via de regra se destaca no mercado.
iferentes caminhos dos profissionais de Direito
Dr. Freitas orienta que a graduação por si só não é suficiente, pois somente é possível tornar-se advogado após aprovação no Exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), pois para ser advogado o profissional deve ter registro no Órgão de Classe, no caso, a OAB.
Uma vez já advogado devidamente inscrito na OAB, o profissional pode tornar-se um profissional autônomo, como é o caso da grande maioria de advogados do país, que trabalham no próprio Escritório, por conta própria.
Ou o profissional pode vir a trabalhar como empregado, nesse caso atuando na iniciativa privada, onde poderá trabalhar para uma empresa ou então para um escritório de advocacia; como advogado empregado, o profissional também poderá encontrar trabalho no setor público, no qual poderá ingressar por concurso público, no qual o profissional recebe outra denominação, qual seja, Procurador. O profissional advogado também poderá trabalhar como assessor, atuando junto a outros segmentos na assessoria a outros profissionais, como ocorre por exemplo, na Contabilidade, na Política, etc. Como advogado autônomo, não existem níveis distintos na carreira a serem atingidos pelo profissional. O advogado é simplesmente advogado, e será sempre advogado. Já na condição de advogado empregado, seja na iniciativa privada, ou seja, no setor público, pode haver uma hierarquização dos graus a serem alcançados. Nesses casos, geralmente o profissional começa como
Advogado Júnior (ou simplesmente advogado), passa pelo cargo de Advogado Pleno, chegando no grau máximo de Advogado Sênior.
É bom lembrar que para ser um magistrado, ou um promotor de justiça, não se exige que estes profissionais antes tenham sido advogados. Para essas profissões exige-se apenas a formação em Direito, e prática de 03 (três) anos em atividades jurídicas, mas não necessariamente como Advogado, concluiu Dr. Freitas.
Dra. Karina, reconhece que o campo de atuação na área do Direito é bastante extenso, sendo difícil pontuar todos. Mas de maneira geral há os que preferem trabalhar na iniciativa pública, e hoje em dia são muitos que escolhem esse caminho. Os concursos públicos são bastante concorridos. Outros atuam na iniciativa privada, fazendo parte do quadro de funcionários de importantes empresas, por sua vez, há os que preferem abrir seu próprio escritório. O grau mais alto que o profissional pode chegar depende muito de qual área escolhe atuar, porém sempre é possível atingir bons cargos.
Em homenagem ao Dia do Advogado, os dois empregados entrevistados – Dr. Freitas e Dra. Karina, nos contaram algumas particularidades e curiosidades sobre a escolha de suas profissões.
CRHU - Porque você escolheu esta profissão?
Freitas – Acho que no meu caso posso dizer que eu não escolhi a profissão, e sim que a profissão me escolheu. Melhor explicando, eu não escolhi o Direito, pois quando estava no ensino médio e comecei a pensar em profissões que achava “atraentes”, eu ainda não cogitava fazer Direito; tanto que em meus primeiros vestibulares prestados escolhi inicialmente Engenharia Agrícola, e na sequência optei por Análise de Sistemas, porém, não passei em nenhum deles. Depois disso fiquei sem prestar vestibular por uns anos, até que resolvi tentar novamente, mas desta vez escolhi o vestibular de Jornalismo, opção esta desta vez motivada por uma grande paixão que tenho, a leitura, e também pelo gosto de escrever que sempre tive. No entanto, fiquei apenas um único semestre na faculdade de Jornalismo, pois sempre fui muito tímido, e acabei percebendo que minha timidez seria um sério problema para mim no curso e na profissão de Jornalismo. Foi então que me ocorreu tentar o Direito, fiz um vestibular de meio de ano, no qual somente consegui ser aprovado graças à boa nota obtida na prova de redação, e assim consegui entrar na faculdade de Direito, mas depois veio o desafio de conseguir terminar, pois meu pai era pedreiro e eu trabalhava como servente com ele, ou seja, não ia ter dinheiro para concluir a faculdade, mas acabei conseguindo uma bolsa de estudos logo no segundo semestre, e isso permitiu que eu conseguisse concluir a faculdade. Mas o interessante é que mesmo durante o curso de Direito na faculdade eu não conseguia me identificar tanto com o curso; no entanto, o trabalho do advogado exige sempre muito estudo e atualização, e como eu sempre gostei muito de ler e de escrever, eu acabei me adaptando muito facilmente à profissão de advogado, sempre conseguindo realizar bons trabalhos e conquistar respeito na cidade onde antes eu trabalhava e tinha Escritório. Daí eu afirmar que não escolhi esta profissão, e sim que a profissão me escolheu, pois com o perfil que eu sempre tive, de um apaixonado pelos livros e com um grande gosto pela escrita, acabei encaixando-me perfeitamente bem nesta maravilhosa profissão que é a de advogado.
Karina - Via de regra, quando precisamos decidir sobre qual será nossa profissão somos muito jovens ainda, comigo não foi diferente aos 17 anos me vi em um momento decisivo: a escolha de qual curso faria na faculdade. Foi um ano intenso, com muitas dúvidas, até porque eu gostava de muitas coisas diferentes. Porém um único pensamento norteava todas essas dúvidas: eu queria fazer algo que pudesse contribuir com a sociedade de alguma forma, sobretudo no âmbito social. Foi quando direcionei minha escolha: o Direito. Um curso bastante amplo e intenso com um leque muito grande de atuação, que proporcionaria um conhecimento apurado sobre a vida em sociedade.
CRHU - Você está satisfeito com sua carreira? Ainda faria a mesma escolha hoje em dia? Por quê?
Freitas – Sim, estou muito satisfeito com minha carreira, e não me vejo trabalhando em outra profissão. No entanto, não sei se atualmente faria a mesma escolha, caso tivesse que escolher novamente uma profissão. Isso porque, apesar de a profissão de advogado ser maravilhosa, quando fazemos a escolha de uma profissão, geralmente temos que pensar no futuro, na subsistência nossa e de nossa família, no pagamento das contas, e coisas do tipo, e atualmente o mercado de trabalho do advogado, principalmente no Estado de São Paulo, está bastante saturado, e nesse caso a lei da oferta e da procura é impiedosa: quanto maior a oferta de profissionais disponíveis no mercado, menores os rendimentos que se ganha, e assim a cada ano a situação vai se degradando mais, criando um cenário para a profissão de advogado que, na minha opinião, está ficando cada vez mais desanimador.
Karina - A satisfação na carreira envolve muitos prismas, e de maneira geral sou muito feliz no que faço e sobretudo consegui de algum forma atingir o objetivo almejado lá no início de minha escolha profissional: realizar um trabalho no âmbito social, sobretudo com o foco na população carente.
CRHU - Na sua opinião o que é indispensável para o sucesso na carreira?
Freitas - Gostar do que faz para fazer com prazer, e procurar fazer sempre da melhor maneira possível, em qualquer situação.
Sem dúvidas, o sucesso na carreira, que não se resume à questão financeira, compõem-se de diversos fatores, não deixando de lado nem mesmo o fator sorte, porém fazer o que realmente gosta, e o aprimoramento e estudo constante pode gerar bons frutos. Afirma Karina
CRHU - Qual você considera a maior vantagem da sua carreira?
Freitas – A formação. A formação do advogado é muito ampla, e quando feita com qualidade, permite ao profissional atuar não só na advocacia, mas também em outras áreas de atuação profissional.
Karina – A vantagem que envolve a minha carreira é a amplitude de atuação que ela proporciona, e o vasto conhecimento que adquirimos sobre assuntos diversos.
CRHU - Que conselhos você dá para quem quer seguir a carreira de direito?
Freitas: Acho que nesse caso, posso dar 3 conselhos: 1) Estudar; 2) Estudar; e 3) Estudar.
Karina – Para quem pretende seguir essa carreira sugiro que esteja disposto a estudar bastante, pois o Direito é uma área do conhecimento em constante mudança e aprimoramento.
CRHU - Sabemos que o advogado poderá optar para trabalhar em várias áreas do Direito. Como é fazer essa escolha? O que te levou a escolher a área de sua atuação?
Freitas - Essa escolha, quando existe (porque nem sempre o advogado se especializa e atua numa área única do Direito, e tem muitos profissionais que fazem “clínica geral”, isto é, atuam em todas as áreas do Direito), vai muito da identificação pessoal do profissional com o campo do Direito escolhido, ou também pode ser motivada por um projeto financeiro, quando o profissional entende que determinada área do Direito pode ser-lhe mais rentável.
No meu caso, sempre gostei muito do Direito Civil, e do Direito Tributário, áreas nas quais segui minha carreira profissional, e sempre atuei, inclusive, fazendo uma pós-graduação para conseguir maior especialização nessas áreas.
Karina – Existem diversas áreas de atuação no Direito, como por exemplo, na esfera cível, criminal, trabalhista, previdenciário, empresarial, dentre outros. Normalmente durante a faculdade você acaba tendo uma tendência e gosta mais de uma área. Após a conclusão do curso muitos se especializam numa área determinada, outros já preferem atuar em várias áreas ao mesmo tempo, o que é possível também. Particularmente acho que devido ao vasto campo de conhecimento que o direito abrange, o ideal mesmo para ter um destaque no mercado é especializar-se em uma área, e aprofundar os conhecimentos no campo de atuação que escolher.
CRHU - De acordo com o Código de Ética e Disciplina da OAB , cabe ao advogado manter um comportamento respeitoso no exercício da sua profissão. Todavia, assim como em qualquer profissão, há as chamadas “maçãs podres” que acabam contaminando toda uma classe profissional. Como você se sente nos dias atuais vendo tantos maus profissionais destruindo a profissão que você escolheu?
Freitas – Fico indignado, e penso que a punição disciplinar deveria ser mais ríspida. Mas realmente não se pode perder de vista que maus profissionais existem em qualquer profissão. Particularmente, eu penso que quando a pessoa possui alguma tendência para “fazer coisas erradas”, ela vai fazer isso em qualquer profissão que estiver exercendo, e assim, se for advogado, será um mau advogado, se for um médico, será um mau médico, etc. Inclusive, também temos visto na mídia relatos de médicos que se negam a atender pacientes doentes, políticos corruptos, empresários praticando estelionato, enfim, golpistas e oportunistas nas mais variadas profissões. Assim sendo, as punições deveriam ser pesadas, mas para todas as profissões; não pode haver uma punição disciplinar extremamente gravosa para um advogado que no exercício da profissão comete um ilícito, se não houver a mesma punição para um magistrado, um médico, um promotor de justiça, um político, que também venham a cometer um ilícito da mesma espécie.
Karina – Tendo uma visão positiva, para um mau profissional, sempre há vários excelentes profissionais em contrapartida. Acredito que estes profissionais com ausência de ética no trabalho ou mesmo com baixo conhecimento técnico e sem qualificação são a minoria e acabam sendo “esquecidos” no mercado de trabalho, tendo “vida útil” profissional curta. Nesse sentido, a maioria é de bons profissionais e, estes profissionais sim, se mantêm por anos e anos, devendo suas ações positivas serem valorizadas. Dessa forma, quando nos deparamos com profissionais pouco capacitados/qualificados e sem ética profissional, temos ainda mais vontade de mostrar para a sociedade o quanto eles não fazem parte do contexto. Por isso tendo como base o estudo constante e a boa vontade essas “maças podres” aos poucos perdem o espaço.
CRHU - Conte a experiência da sua primeira defesa.
Freitas – Olha, já vai tanto tempo de carreira, mais de 16 anos de profissão, que eu confesso sinceramente já não lembrar qual foi minha primeira defesa.
Karina – A primeira defesa…quantas dúvidas e medos, mas sempre superados pelo estudo e dedicação…já faz algum tempo e talvez não me lembre ao certo, mas é muito comum nós advogados começarmos atuando em causa própria ou da família. Sempre tem algum parente que precisa de seus serviços. Mas me lembro de um inventário e ainda bem que o cliente possuía um único bem e poucos herdeiros.
Freitas – Olha, já vai tanto tempo de carreira, mais de 16 anos de profissão, que eu confesso sinceramente já não lembrar qual foi minha primeira defesa.
CRHU - Conte uma situação engraçada ou uma curiosidade ocorrida na sua carreira.
Costuma-se dizer que a Justiça brasileira é muito lenta. Bem, um fato inusitado vivido por mim na minha carreira profissional ocorreu numa situação desse tipo.
Eu comecei a advogar logo no início do ano de 2001, após ter recebido minha identificação profissional (carteira da OAB) no final do ano 2000, e lá se vão
mais de 16 anos... Pois bem, no ano de 2002 eu fui procurado por uma mulher, que queria cobrar pensão alimentícia em benefício do filho perante seu ex-marido. Entrei com o processo, porém, o ex-marido havia simplesmente “desaparecido do mapa” e ninguém sabia onde ele se encontrava. Mesmo assim, o processo de execução de pensão alimentícia transcorreu regularmente, com a prática dos atos processuais necessários, mas como não houve pagamento da pensão alimentícia, o Juiz determinou a prisão do pai ausente. Expediu-se o Mandado de Prisão, porém, como não se tinha notícias do devedor da obrigação de sustento de seu filho, a coisa ficou por isso mesmo, e acabou acontecendo o que alguns advogados chamam de “ganhar mas não levar” (que é quando uma das partes no processo obtêm êxito mas não consegue efetivamente receber nada em razão da sentença processual que lhe foi favorável). Enfim, o tempo passou, e passou muito tempo, até que eu já nem me lembrava mais da existência daquele processo, quando, no de 2011, nove anos depois, recebi em meu Escritório a ligação telefônica de um advogado, o qual dizia que era de uma cidadezinha do interior de Santa Catarina, e que seu cliente, o pai ausente daquele meu antigo processo de execução de pensão alimentícia, encontrava-se preso em razão daquele antigo Mandado de prisão, e agora desejava urgentemente fazer um acordo. Agradeci o contato, e disse que ia procurar minha cliente para saber se ela aceitava o acordo proposto; desliguei o telefone, e deparei-me com outro problema: eu já tinha perdido completamente o contato com minha cliente, e não fazia ideia de como encontrá-la, mas fiz algumas pesquisas a partir do nome e endereço que eu tinha inicialmente da minha cliente, e consegui o telefone de uma sua parente. Então liguei, expliquei a situação e disse que precisava falar urgentemente com minha cliente, mas a pessoa que me atendeu disse que seria muito difícil eu conseguir falar com minha cliente, pois ela tinha um emprego no qual passava a maior parte do tempo, e que ela ia para casa muito raramente, mas que de qualquer forma ia tentar entrar em contato com minha cliente para “dar o recado”; agradeci, deixei meu telefone do Escritório, e desliguei o telefone. Alguns dias depois recebi uma ligação telefônica da minha cliente, então expliquei-lhe rapidamente a situação, e perguntei se ela aceitaria os termos do Acordo proposto por seu ex-marido dentro das suas condições financeiras, que ele dizia ser muito difícil, o que implicava no pagamento apenas parcial (e muito pouco, quando comparado com o valor total atualizado da dívida) da pensão alimentícia devida para seu filho ao longo daqueles quase 10 anos, e a resposta que ouvi da minha cliente foi mais ou menos assim: “Doutor, pode aceitar o Acordo sim. Esse dinheiro, neste momento da vida do meu filho, depois de tanto tempo, não vai significar nada, eu não vou conseguir comprar as coisas que deixei de comprar quando meu filho teve a necessidade; mas graças ao bom Deus eu consegui sustentar meu filho, e nunca deixei-lhe faltar nada do essencial que uma criança precisa ter. Mesmo assim, eu não sinto rancor por meu ex-marido, e não quero que ele fique preso por não conseguir pagar integralmente o valor atualizado da dívida. Que ele siga a vida que ele escolheu, porque eu e meu filho estamos muito bem hoje”. Aquela situação me causava uma nova surpresa, agora em razão da gentileza e bondade demonstrada por aquela mulher. Mas depois disso, ainda acabou surgindo um novo empecilho, pois eu redigiria o Acordo, mas teríamos dificuldade para colher a assinatura dela, pois ela passava a maior parte de seu tempo no emprego, na casa de seus patrões, e assim sendo não teria como ir ao meu Escritório para assinar o documento, então eu disse para ela que isso não seria problema, pois bastava ela me passar o endereço que eu iria até ela, e então foi a vez de eu perceber que ela ficou surpresa, e depois ela confirmou minha impressão ao dizer que como eu era seu “advogado do Estado” ela não esperava tanta “atenção” de minha parte. E assim foi, ela passou-me o endereço da casa de seus patrões, eu redigi o Acordo, e depois fui até o local para que ela assinasse o documento, e lá chegando, nova surpresa para mim, ela recebeu-me com extrema simpatia, conversamos um pouco sobre a situação, e quando eu já me preparava para ir embora, ela disse que seu patrão era o cantor Chitãozinho, da dupla Chitãozinho e Xororó, e que me apresentaria para ele naquele momento, mas infelizmente o mesmo estava fora, tratando de negócios numa outra cidade. Eu então disse-lhe que era uma pena, pois sou um grande fã dessa dupla, e adoraria conhecer pessoalmente o Chitãozinho. Fui embora, retornei para meu Escritório, enviei o Acordo para Santa Catarina para que fosse também assinado pelas outras partes envolvidas no processo, que agora finalmente iria ser encerrado depois de longos 09 anos. Alguns dias depois, ao chegar ao meu Escritório para mais um dia de trabalho, a surpresa final naquele caso: a secretária havia deixado sobre minha mesa de trabalho, uma cesta, destas com produtos de café da manhã, entregue por minha cliente, e dentro da cesta, entre vários produtos, havia um DVD da dupla Chitãozinho e Xororó, com uma dedicatória muito gentil para mim, do próprio Chitãozinho. Ao final de tudo, restou para mim a certeza, e a constatação pessoal, de que apesar de todos os problemas e mazelas de nossa sociedade, apesar da completa inversão de valores do brasileiro, ainda existem muitas pessoas dignas e bondosas, e, o mais importante, gentileza gera gentileza".
Karina - Interessante como este convite pra falar sobre minha profissão me fez refletir, boas reflexões, resgatar lembranças e oportunizou fazer uma viagem no tempo e mesmo voltar a essência de minhas escolhas.
PARABÉNS À TODOS OS NOSSOS ADVOGADOS
SUCESSO AOS FUTUROS ADVOGADOS
Preparação/organização da matéria – Lairce Cardoso/Lidia Lima - CRHU
Edição da matéria/fotografias - Edison de Souza - Assesoria de Imprensa
DiCAF/DA/CRHU/Programa SocioCultural
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