9 lições sobre deficiência visual e auditiva por Thaís
A Thaís foi aprovada no Concurso Público da COHAB/CAMPINAS 01/2010. Em 06/05/2014 foi contratada para o emprego de Arquiteto Junior e está lotada na Coordenadoria de Projetos. Fez cirurgia de implante coclear bilateral sequencial em 2015 e recentemente foi aluna especial de Doutorado em Arquitetura, Tecnologia e Cidade na Unicamp.
Apesar das dificuldades, ela mostra que as limitações não impedem que a pessoa com deficiência leve uma vida normal. Veja na reportagem.
No dia 21 de setembro é celebrado o Dia Nacional de Luta das Pessoas com Deficiência, data que serve para lembrar da importância da inclusão das pessoascom deficiências na sociedade, e das lutas diárias que elas enfrentam.
A data de 21 de setembro foi escolhida em 1982 pelo movimento social Encontro Nacional, porém somente foi oficializada em 2005 através da Lei Federal n° 11.133 de 14/07/2005.
A escolha de 21 de setembro se deve a sua proximidade com o dia da árvore e também da chegada da primavera, representando então as lutas de reivindicações de cidadania
e participação plena das pessoas com deficiência na sociedade. Sendo que essa data é lembrada todos os anos desde então, em todos os estados brasileiros, servindo como momento de reflexão para o esforço de inclusão social.
1. Conversar: conversar é sempre bom
A maioria das pessoas com deficiência auditiva e/ou ou visual não se sentem ofendidas por você perguntar sobre a deficiência dela. Pode ser que a situação dela seja muito recente (deficiencia adquirida por um acidente, por exemplo) e talvez ainda não esteja preparada para lidar sobre o assunto, mas não custa perguntar se pode abordar o assunto, no máximo recebera um "não". Porém se a pessoa dá a abertura, ela te ajudará a lidar com as limitações dela. Pode ser que ela seja usuária de IC (Implante Coclear) ou de AASI (Aparelho de Amplificação Sonora Individual) e precise fazer a LOF (leitura orofacial, mais conhecida como leitura labial) ou não. Ou pode ser que seja usuária de Libras (Língua Brasileira de Sinais), uma língua com estrutura diferente do Português, e muito desafiante, mas nem isso te impede de comunicar com ela, vocês acharão alguma forma! Às vezes as pessoas tem medo de abordar o assunto com pessoa com deficiência simplesmente porque acham que ao falar da deficiência estarão reforçando a deficiência em si, o que não acontece... Ao que parece, o tema ainda é tabu na sociedade, em pleno século XXI!
2. Olhar: abrindo novos horizontes
Enquanto você conversa com a pessoa com deficiência auditiva, fique de frente e olhe para ela. Ela precisa ver seu rosto e suas expressões faciais, pois ele demonstrará seus sentimentos, aquilo que a entonação da voz não tem sentido algum para a pessoa com deficiiência auditiva. Se você tampar a boca no meio da frase será como se o som da fala estivesse interrompido para os ouvintes. Ao virar o rosto muitas vezes entenderemos que a conversa acabou!
3. Não gritar: gritar não é preciso
Muitas pessoas com deficiência auditiva fazem a LOF e não necessitam que você aumente o tom de voz; os aparelhos podem até captar o som alto, porém não será suficiente para a compreensão das palavras. Fale devagar até ela acostumar com você. Podemos até conversar sem som só pela leitura labial, uma vantagem em lugares barulhentos!
4. Prestar atenção: é preciso
Fique atento ao que ela diz. Às vezes não basta você perguntar e ouvir delas todas as "regras". É um mundo novo para você e ela acabou de explicar sua necessidade mas você não assimila na hora. Foram muitas as vezes que fui explicando em atendimentos, seja bancário, supermercados, órgãos públicos, que preciso que a pessoa fale de frente para mim, devagar, sem gritar e sem "tampar" a boca. Acabo de explicar e a pessoa vira de costas e diz alguma coisa que não entendi. Ou então vem falar ao pé do meu ouvido. Eu tenho que lembrá-la do que acabei de explicar... Geralmente a pessoa se assusta que não se deu conta e caimos na risada!
5. Vibração: o mundo está sempre pulsando
Percebemos muitos sons pela vibração. Muitos de nós, mesmo os que não usam nenhum aparelho auditivo, gostam de ir a shows, percebemos os sons pela vibração do chão, tocando nas cadeiras, mesas ou no palco e nas caixas de sons. Se ao ouvir um som e perceber de onde vem, você pode mostrar o objeto de onde vem, ou próximo dele, para a pessoa com deficiência auditiva tocar e "sentir" os sons. Vale lembrar que outros, simplesmente por não ouvir não gostam de qualquer tipo de música.
6. Alcance visual: até onde a vista alcançar
Mantenha suas mãos e objetos ao alcance próximo do olhar da pessoa com deficiência visual, para casos como o meu, que tenho visão tubular e só enxergo na frente. Uma vez estava no shopping olhando uma vitrine, e minha mãe estava olhando a vitrine do outro lado do corredor. Fui até ela para prosseguir o passeio e ela me perguntou: "você não viu que uma pessoa chegou ao seu lado e falou com você? Como você a ignorou ela foi embora!". Eu, claro, não tinha visto e nem escutado. Pensei: a pessoa deve ter achado que eu era metida e a esnobei!
7. Calma: temos muito tempo!
Tenha paciência, uma hora você acertará e só acerta errando. Se a pessoa não entender pela segunda vez, repita. Até ela entender. Uma hora vai entender. Seja falando, com gestos, recursos visuais ou a escrita. Nada mais chato que quando ela não entendeu da segunda vez e você diz "ah, esquece!".
8. Não se assuste!
A pessoa com deficiência pode relatar coisas que para você são insignificantes mas para ela é uma conquista. Você poderá se surpreender, são pequenas coisas que você também pode parar para apreciar, afinal a vida é curta e merece ser vivida intensamente. Nunca me esqueço da primeira vez que ouvi, após fazer o IC, os ponteiros do relógio da cozinha acusando os segundos...
9. Bom humor sempre
Pode ser que nehuma lição funcione, que você tentou de tudo! Não desanime. Sendo aberto à essas lições, você aprenderá outras novas. E muitas delas poderá reaplicar em outras fases de sua vida. O importante é tentar e seguir a vida com bom humor.
E algumas outras lições...
E claro, nós, surdos também temos que aprender a conviver no mundo dos ouvintes, são inúmeras as lições. Às vezes estou sem o IC e saio fazendo barulho pela casa ou falando alto e esqueço que tem mais gente dormindo! Às vezes também começo a falar em Libras com quem não conhece a língua e acha que eu devo estar louca.
Por conta da deficiência acabamos aprendendo essas lições desde cedo e somos mais sensíveis a lidar com pessoas com diferentes limitações, ainda que não sejam as mesmas que as nossas. Mas, a mais importante delas é aceitar essas dificuldades da vida com naturalidade, não assumindo um papel vitimista, e sermos proativos, não esperando que essa atitude parta dos outros. Uma lição para a vida toda.
Organização e edição da matéria: Coordenadoria de Recursos Humanos
Edição da matéria/fotografia - Edison de Souza - Assessoria de Imprensa
Programa SocioCultural
DiCAF/DA/CRHU
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