28/06/2017
O telefone nasceu meio que por acaso, na noite de 2 de junho de 1875. Alexander Graham Bell, que morava nos Estados Unidos e era professor de surdos-mudos, fazia experiências com um telégrafo harmônico quando seu ajudante, Thomas Watson, puxou a corda do transmissor e emitiu um som diferente. O som foi ouvido por Bell do outro lado da linha.
A invenção foi patenteada em 7 de março de 1876, mas a data que entrou para a história da telefonia foi 10 de março daquele ano. Nesse dia, foi feita a transmissão elétrica da primeira mensagem completa pelo aparelho recém inventado.
Muito mais tarde o dia 29 de junho ficou conhecido como o Dia da Telefonista.
A Profissão
Com a invenção, tanta gente queria ter o chamado telefone que já não eram mais possíveis ligações individuais entre cada aparelho; eram necessárias centrais telefônicas para fazer a conexão correta.
Quando a primeira central telefônica entrou em funcionamento, eram trabalhadores do sexo masculino que faziam as conexões ao outro lado da linha. Mas, já no final do ano, todos eles foram substituídos por mulheres: surgia então a profissão de telefonista.
Foram contratadas mulheres para o trabalho nas centrais telefônicas, o que se justificou na época da seguinte maneira: O tom mais alto das cordas vocais femininas é mais compreensível. Além disso, os clientes comportam-se de forma, digamos, mais amigável ao ouvirem uma voz de mulher ao telefone.
O trabalho das primeiras telefonistas
As exigências para a aceitação no emprego eram uma boa formação escolar, fineza de trato e, se possível, conhecimento de idiomas estrangeiros. Além disso, as moças deviam ser jovens e de “boa família”. O treinamento era feito pela empresa dos Correios, que detinha o monopólio da telefonia na Alemanha, desde os seus primórdios até a década de 90, isso no século 20.
O estado civil, então, era controlado de maneira rigorosa. Uma das características especiais do trabalho era que se excluía a possibilidade de casamento. Isso tinha tradição desde o início dos Correios.
A questão estava ligada ao rigoroso conceito previdenciário da época. Se a mulher se casasse, tivesse filhos e, posteriormente, ocorresse algo com o marido, então o estado teria de sustentar toda a família, uma vez que a mulher era funcionária pública. Isto não condizia com os conceitos do serviço público daquela época.
Salário igual ao das secretárias
O ganho mensal era o mesmo que em outras profissões, como secretária ou estenotipista. Não era um salário com o qual se pudesse sustentar uma família e nem era o sentido dele. A remuneração deveria ser suficiente para sustentar as moças solteiras. E, para isto, era suficiente, diziam as regras.
Nossa Cohab-Campinas conta hoje com duas profissionais nesta área: Norma Ramos Zanella e Priscila Lio Crudi. Fizemos um ping-pong com elas pra que você saiba um pouco mais a respeito deste importante trabalho já que a pessoa que atende o telefone é sempre o primeiro contato que você vai ter em qualquer ramo de atividade.
- Porque você escolheu essa profissão ?
Norma - Porque, sempre gostei da área de comunicação, de me comunicar com as pessoas de modo geral.
- Quais são os maiores desafios profissionais de uma telefonista?
Priscila - Ter sempre paciência e não perder a calma em nenhum momento
- O que você recomenda para as jovens que pretendem optar pela profissão?
Norma - Primeiramente gostar, ter carisma, aptidão e paciência
- Você se sente realizada em sua carreira?
Priscila - Sim, quando escolhi a profissão já sabia exatamente o que queria, e como lidar com cada situação
- O que você faz quando uma pessoa já vem com grosseria com você?
Norma - Procuro manter a calma e a paciência, certa vez ligou uma senhora muito brava gritando palavrão chamando de “ Vagabunda” falando que tinham ligado daquele número para o marido dela, no fim a ligação foi feita para falar sobre o auxílio moradia.
- Já aconteceu de alguém ficar muito bravo com a espera telefônica ?
Priscila - Várias vezes. Uma vez a pessoa estava tentando falar em um ramal e não conseguia e generalizou falando que era a telefonista. Em outra situação,reclamaram que a Cohab não atendia 24 horas e achamos muito engraçado.
- Você fez algum curso específico na área?
Norma - Não, somente um treinamento em uma empresa privada
- Você se sente uma garota de recados?
Priscila - Não, não podemos passar recados pedimos para que retorne a ligação.
- Qual a principal virtude da telefonista ?
Norma e Priscila - Educação, ética e empatia.
- Você sente que a profissão está ameaçada pela facilidade de telefonia móvel ou atendimentos digitais?
Priscila - Não, sempre vai ser preciso ter uma telefonista.
- Já sofreu algum assédio moral?
Norma - Nunca!
Apesar do otimismo das nossas colegas, a Agência Brasil apresentou dados pouco animadores no início de 2016. O número de linhas ativas de telefonia fixa caiu mais uma vez no Brasil em novembro de 2015. A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) registrou 43,83 milhões de linhas, o que representa uma queda de 2,6% em relação ao início do ano. Na comparação com outubro, a queda é de 0,48%.
Segundo a Anatel, em novembro a densidade do serviço estava em 21,38 linhas para cada grupo de 100 habitantes. Já a teledensidade da telefonia celular no Brasil é de 131,5 linhas móveis para cada grupo de 100 pessoas – ou seja mais de uma linha por habitante.
Mesmo assim o serviço da telefonista ainda é indispensável e tem muita gente que se derrete todo ao ouvir do outro lado: Alô, pois não? Aqui quem fala é a telefonista. E na maioria das vezes nós, se quer, ficamos sabendo o nome de quem nos atendeu.
Glossário
Teledensidade: Índice de distribuição (densidade) de linhas telefônicas numa região.
Estenotipista: Aquele que escreve numa máquina o que outro fala em tempo real.
* Com a colaboração de Lídia de Lima.